Os próximos tempos não vão ser fáceis. Não vou mentir, estou de certa forma fula. Eu que sempre gostei de viver a minha vida à minha maneira, sem dar cavaco a ninguém, vejo-me agora numa situação que me provoca sentimentos contraditórios.
A minha cunhada foi mesmo internada na ala de psiquiatria do hospital Por quanto tempo? Não fazemos ideia. Esteve dois dias em observação e não melhorou. Tem de lá ficar pois não está em condições de voltar a casa. Mas ela tem um filho pequenino, lembram-se?
Pois é, esse é o meu problema. É que nunca me dei bem com a minha cunhada, mimada, egoísta, manipuladora. Hoje se calhar entendo um pouco melhor porque é que a família toda sempre a protegeu tanto e lhe faziam as vontades, eles já a tinham visto assim... pior ainda! E o pavor consegue petrifica-nos. O que não quer dizer que concorde com a forma permissiva com que sempre lidaram com ela.
Se calhar sou um pouco louca também por ter ficado presa às palavras que me disse há dois dias, no seu descarrego de fúria em mim, mas não consigo deixar de achar que tudo o que ela disse é realmente tudo o que ela sente, esteja sã ou não, a loucura do momento deixou-a apenas sem filtro, sem máscaras, e disse tudo o que bem lhe apeteceu.
E é irónico, não é? Naquele desvario dela, ela acusar-me de não gostar da família deles, de ser má mãe, uma mãe que oprime os filhos, que não faz nada por eles, que cuida deles porque tem de ser, forçada e de má vontade. E tanto, mas tanto mais que me disse e que me tem enchido os pensamentos constantemente.
Não deixa de ser irónico, que seja eu, uma das pessoas que se jogou à frente, para que o filho não deixasse de ter quem cuidasse dele na falta dela. É irónico eu estar a ver a minha vida virada do avesso por tempo indeterminado, a ver as rotinas dos meus filhos a serem todas baralhadas, a minha liberdade a ser colocada de lado.
Perdoem-me se isto soa muito mal, sei que soou muito ruim a algumas pessoas, mas sinceramente pouco me importa. Cuido-lhe do filho porque é meu sobrinho, porque sinto uma pena enorme desta criança, porque sei que precisa de amor, de atenção, de cuidados. Não é porque fica bem, ou para lhe poder jogar um dia mais tarde em cara. Mesmo porque a vontade que eu tenho é de nunca mais lhe olhar na cara, embora seja algo que não verbalizo (já vos tinha dito que nunca nos demos bem, não já?!).
É triste, mas o miúdo precisava mesmo de distância da mãe. Tem passado as manhãs com outro familiar, come e dorme a manhã toda. Fica comigo o resto do dia e mal o ouço chorar. À noite fica com o pai e tem dormido bem. Com a mãe chorava dia e noite. Era demasiado stress, demasiada agitação, demasiadas discussões.
Sei que ela não está bem, mas sou incapaz de sentir pena como todo o resto da humanidade. Debato-me com esse sentimento a toda a hora, mas que me perdoem, porque não consigo. Juro que gostava de sentir compaixão por ela, mas simplesmente não sinto nada. Não consigo sentir nada.